Por enquanto

Mudaram as estações, nada mudou, mas eu sei que alguma coisa aconteceu. Tá tudo assim tão diferente. Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre sem saber que o "pra sempre" sempre acaba? Mas nada vai conseguir mudar o que ficou. Quando penso em alguém só penso em você, e aí então estamos bem. Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está.. nem desistir, nem tentar, agora tanto faz. Estamos indo de volta pra casa.

Em outro idioma, talvez...

Sempre me julguei uma pessoa não influenciável e que nada poderia mudar valores e idéias gravadas tão profundamente em mim. Sei que jurei nunca mais falar de amor também, mas como não falar da única coisa que eu sou e que me liga a você? Hoje percebo que o que me move não é a reação química O2 + C6H12O6 = ATP + H2O + CO2, e sim a sua presença. Presença essa que me faz te ver em cada detalhe do meu quarto, em cada acorde e em cada sorriso; embora nenhum deles consiga transmitir exatamente o seu brilho. Em cadernos antigos vejo as minhas iniciais, e não, não estão sozinhas, estão junto às tuas. Elas estão juntas, como devemos estar. Isso não é amor? Não? Então me explica porque apenas para ver o seu rosto eu cruzaria o oceano inteiro milhares de vezes. Ou porque o canto dos pássaros me lembra a sua voz, e as estrelas os seus olhos. Me explica porque eu sinto que podemos mover tantas barreiras se você estiver comigo. Não tens outra explicação, não é? Não importa quantas vezes vamos tropeçar ou até mesmo cair em nosso caminho, o que importa é que sempre vamos seguí-lo de mãos dadas.
Sei que três palavras nunca querem dizer o suficiente, mas, é, eu te amo.

Pretérito mais que perfeito

-Por que você está diferente, com o olhar vazio?

(Me deixe ver aquele seu sorriso, me deixe ver aquela cicatriz de quando você escorregou da árvore e mesmo assim saiu rindo. Que dia perfeito para ser lembrado por nós dois, não é? Claro que não, você não estava lá. Você sente falta daquela lua cheia? Eu sinto. E das estrelas tão calmas lá em cima? Eu sinto, eu sinto! Você sequer conhece elas? Aposto que não levaria a sério todas as maneiras que eu já fracassei, tantas que sinto que esse meu oxigênio é venenoso e contagioso. Na minha cabeça ecoa um "não vou te esquecer, nada vai mudar" agora tão sem razão. Meu olhar é vazio porque o que eu quero nunca parecerá certo, pois o que eu preciso não estará aqui essa noite.)

-É impressão sua, amor. Apenas impressão sua.

Nostalgic

Faça uma lista de grandes amigos. Dos que você mais via há cinco anos atrás, quantos você ainda vê todo dia? Quantos você já não encontra mais? Faça uma lista dos sonhos que tinha. Quantos você desistiu de sonhar? De todos amores jurados pra sempre, quantos você conseguiu preservar? Onde você ainda se reconhece na foto passada ou no espelho de agora? Hoje é do jeito que achou que seria? Quantos amigos você jogou fora? De todos os mistérios que você sondava, quantos você conseguiu entender? Quantos segredos que você guardava, hoje são bobos, ninguém quer saber? De todas as mentiras você condenava, quantas você teve que cometer? Quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você? Quantas canções que você não cantava hoje assobia pra sobreviver? Quantas pessoas que você amava hoje acredita que amam você? De todas as promessas que já te juraram, quantas você realmente viu acontecer? De todas as poesias que você sonhava, quantas você terminou de escrever? Quantas cartas você não rasgou? Quantas fotos você já queimou? Para onde queria voltar se pudesse controlar o tempo? Quantas palavras antes tão pensadas acabaram jogadas ao vento?

When fates collide

happy b-day, gush <3


Depois de um silêncio confortável sob a proteção dos braços dele em torno de mim, eu tento, com sucesso, esconder o tom apelativo da minha afirmação:
-Sabe, você não precisa ir. - Falo tão baixo que mais parece um sussurro.
Ele sorri soltando um pouco de ar pelo nariz e aperta seu abraço, dizendo:
-Queria dizer o mesmo.
Eu não respondo, embora quisesse dar um discurso quase profissional sobre futuro, oportunidades e chances. Segundas, terceiras, quartas chances. Sobre como o orgulho conseguia destruir certas coisas, incluindo o próprio discurso que estava se formando na minha cabeça, e que de fato ficou apenas na minha cabeça.
Mas para a minha sorte - ou, no momento, azar - ele conseguia interpretar o que eu não dizia. Sempre conseguiu. Era como uma competição, onde seu olhar penetrante corria para captar qualquer sinal de sentimento antes que meu orgulho começasse a escondê-lo. Talvez tenha sido isso que me fez sentir segura por tanto tempo, embora essa segurança estivesse sendo transformada em cacos a cada minuto que passava.
Eu sabia que estava chegando a hora de ir, apenas não queria aceitar. Alertas indiretos e avisos bem diretos não faltaram, o que faltou foi uma frase com três palavras. Se eu dissesse que te amava isso teria sido suficiente? O tom avermelhado do nosso cenário intensificava meu medo e eu dizia:
-Fica aqui, as coisas podem mudar. - Foi tudo o que consegui dizer enquanto beirava a fina linha entre calma aparente e desespero descontrolado.
Ele seguiu olhando a lagoa que estava embaixo dos nossos pés por um instante, jogou uma pedra delicadamente nela, não querendo culpá-la por uma partida já prevista mas dolorosa, e virou o meu rosto até que meus olhos estivessem encarando os dele - embora tenha tentado inutilmente evitar esse contato.
-Eu vou, mas vou ficar aqui. Esse medo eventualmente vai passar, confia em mim. Você ficará mais forte quando a tempestade acalmar, e eu estarei contigo aonde quer que você vá.
Meu medo que ele lesse meus olhos como um livro aberto foi confirmado, era como se ele tivesse ultrapassado todos os bloqueios dentro de mim para ler meus pensamentos. O que ele disse me acalmou, talvez por alguns segundos, até que chegou a hora de dizer adeus. Minha calma aparente, antes prolongada por palavras seguras e de esperança, se transformou em um emaranhado de sussurros errantes, de quando se quer dizer muito mas em pouco tempo. Eu queria dizer o que não tinha dito em alguns anos, o que parecia claramente impossível.
Ele apenas sorria um sorriso acolhedor enquanto me beijava a testa e partia em direção ao horizonte. Engraçado como nesse momento as nuvens se fecharam, proibindo-me de enxergar muito além da travessia para pescadores na qual nos encontrávamos. Eu assisti enquanto ele caminhava sem olhar para trás em momento algum, até desaparecer entre as nuvens.
Naquele tempo eu não sabia o que fazer diante de uma despedida dessa dimensão, e, para falar a verdade, acho que até hoje não sei. Como previsto, fiquei mais forte. Não tenho mais medo da chuva e da tempestade. Costumo dizer que esse medo é bobo pois tenho um amigo lá em cima que controla as nuvens que um dia o cercaram.
E eu não sei o que ele está fazendo agora, mas essa noite eu vou ficar em casa e sentir a sua falta mais do que ele poderia um dia imaginar.

Porcelana

E não ia ser assim mesmo? Caindo pelos cantos, caindo em prantos. Catando cantos. É cansativo, eu sei. Mas não estaria tudo fora de seu tempo? Tudo rápido. Tudo ríspido. E mais uma vez eu me recuso a te salvar. E mais uma vez eu fico observando. Caindo pelos cantos. Só o jaleco manchado me faz companhia e faz tempo que não me responde. Onde? Para onde fugir? Tem vezes que as consequências sucumbem os frutos. É chato ser sarcástico com quem não se gosta, suponho. Bom mesmo é ser o que quiser. Bom mesmo é ser vivo. Mas a vida é como porcelana, ela quebra, ela derrama. "Me ama, me ama", mas mais uma vez eu me recuso a te salvar. As cores foram junto com as balas de goma e nem avisaram quando voltariam. Riam, senhores, riam. Rima é para poucos. Poucos riem, muitos vêem que mais uma vez eu me recuso a te salvar. Mas e teus olhos? Porque continuam a olhar os meus? Eu. Alguém pediria para ser eu? Eu padeço. Eu pareço. Eu mereço. Às vezes nem me conheço, mas sempre me reconheço. Tenho memória forte. Sei do abandono. Sei do sono e do consolo, mesmo que do último saiba pouco. Mas teus olhos ainda olham tímidos para mim. Timidos maquiados. Mas não ficam melhores limpos? Ficam mais puros, o olhar fica ainda mais bonito e sincero. Mera mortal que sou, tenho opinião fraca. Tenho em mãos a faca e o medo de ferir. Tenho a cura e o medo de agir. Medo de fazer rir. Medo de rir. Medo de ir.

Lifestyle

Um dia resolvi viajar, para bem longe de casa. Escolhi o destino mais demorado e sentei em uma das cabines do trem perto da janela, sozinha. De vez em quando entrava outro passageiro na minha cabine, às vezes por engano - para a minha desilusão - e outras porque nossos destinos eram semelhantes, embora ninguém se atrevesse a tomar a rota que escolhi por ser muito arriscada e demorada. Começávamos a conversar casualmente sempre que o tédio tentava nos assombrar, o que com o tempo acabava fazendo de nós quase amigos de infância, inseparáveis. Até que chegava a hora de se separar. E era sempre a mesma história: pediam para eu mudar de rota, pois a minha era incerta e perigosa, mas eu negava. Neguei a todos eles.
Na minha cabine a maioria dos passageiros que entravam eram mesquinhos, prepotentes, comuns. Mas às vezes aparecia uma pessoa interessante e valiosa, mas essas nunca viajavam comigo por muito tempo. Assistir essas pessoas sairem da cabine e partir em direção ao seu destino era a única situação que me fazia pensar se realmente valia a pena deixar para trás tantas histórias em busca de um futuro desconhecido, mas mesmo assim não desisti.
Até que um dia uma das pessoas interessantes que eu tinha conhecido resolveu pegar o mesmo trem e me encontrou, na mesma cabine, lendo o mesmo jornal de antes enquanto olhava as coisas passarem diante dos meus olhos em alta velocidade. Me disse que havia voltado apenas para dizer que a vida fora do trem é muito mais proveitosa e divertida, e que queria que eu presenciasse isso também. No começo hesitei, mas me foi assegurado que poderíamos chegar ao meu destino indo a pé, então finalmente saí do trem.
Desde então sempre digo que o importante não é mudar sua rota por alguém, e sim encontrar alguém que esteja disposto a te acompanhar, mostrando que o melhor caminho nem sempre é aquele em que estamos acostumados a seguir, mas sim aquele que mais bem nos faz.
Às vezes penso que tudo pode ser esquecido e que o tempo pode apagar coisas que queremos que fiquem intactas até o fim. Como uma tatuagem, que fica pra sempre mas no final acaba se desgastando. Se isso fosse verdade, você acha que valeria a pena tentar de novo e se empenhar? Você voltaria? E se a vida real for mais dura que esse sonho que temos, fazendo uma certa insegurança e decepção nos consumir um pouco a cada dia? E se aquelas palavras que hoje são difíceis de se dizer se tornassem maldições que nos levam de volta a um passado perfeito? Você lutaria pra mudar isso? Você voltaria?
E se isso tudo for uma tormenta pra provar que a minha teoria sobre o tempo está errada e que algumas coisas são, de fato, inesquecíveis e inacabáveis? E se o fogo todo for apagado por problemas mesquinhos que não deveriam nem interferir em um amor tão grande? E se a vontade de compreender os motivos do outro acabar?
E a saudade chega, te lembrando dos dias em que você podia escrever duas letras juntas unidas por um coração, de quando os braços de uma pessoa eram o abrigo mais confortável, de quando seu coração acelerava quando via o brilho naquele olhar, quando sentia a respiração do outro mudar enquanto te abraçava, de quando todas as músicas e filmes de amor pareciam falar sobre vocês - mesmo que não fossem perfeitos o suficiente para descrever.
São muitas dúvidas. Talvez seja preciso seguir a razão quando ela sugere que o correto é escolher outra estrada e nunca mais olhar para trás. Talvez seja preciso seguir o coração quando ele grita a cada segundo o nome de quem te faz feliz.
Se eu quisesse, você voltaria? Porque eu voltaria.


Tell me your secrets and ask me your questions
Oh, let's go back to the start
Running in circles, coming up tails
Heads on a science apart

Nobody said it was easy, it's such a shame for us to part
Nobody said it was easy, no one ever said it would be this hard
Oh, take me back to the start

And tell me you love me, come back and hold me
Oh, and I'd rush to the start

Passagens e passaportes

Já perceberam como olhos tristes são indagantes? Dá vontade de decifrar. E de fato foi o que eu quis fazer quando conheci ela, a guria dos olhos mais tristes que eu já tinha visto. Eu a vi pela primeira vez em uma viagem para o exterior. A única coisa que me deu ânimo para continuar vendo ela foi o estranho fato de que embora seus olhos parecessem impenetráveis, seu sorriso me mostrava tudo que ela queria dizer.
Consegui uma desculpa esfarrapada no trabalho para fazer a tal viagem o mais seguido possível, então mensalmente iniciava-se um ritual. Da janela do ônibus eu contava todas as luzes da estrada, como se as que ficassem para trás fossem afogadas junto com tudo o que estava em sua volta. Enquanto o sol da manhã queimava meus olhos que ainda não tinham despertado, eu via pessoas ao meu lado desejando ter coisas das quais eu alegremente abriria mão apenas para sentí-la mais uma vez.
Chegando lá os raios de sol já não me queimavam mais os olhos, ao invés disso pareciam me lembrar de um amor que nunca morrerá. A poluição, o desmatamento, a violência, a fome e os preços altos sumiam, e o que ficava era uma sensação de paz, como um monge budista. Na verdade era tudo uma conspiração a favor de nós, e eu tinha certeza que nunca ia mudar. Enquanto passávamos os dias e as noites juntos eu contava a ela sobre as complicações com passagens e passaportes, e ela ria como se fosse a piada mais engraçada do mundo, me fazendo rir mais ainda.
Mas chegava o dia em que eu precisava voltar. Eu começava novamente o mesmo ritual, com a esperança de chegar a um acordo comigo mesmo sobre o que fazer com as luzes da estrada. "Deixo que se afoguem ou espero a próxima vez?". Eu sempre esperei a próxima vez, embora muitas vezes quis ter mudado de idéia por causa de todas as complicações e dificuldades envolvidas na viagem.
Mas quer saber? Eu faria tudo de novo apenas para sentí-la mais uma vez.

O ciclo da vida

Engraçado as voltas que a vida dá. Sempre achei que o que as vovós ou tias chatas falavam eram mentiras com o único intuito de levantar auto-estimas alheias. Que atire a primeira pedra quem nunca esteve se remoendo pelos cantos e teve que ouvir alguns chavões como "há males que vem para o bem" ou "se tiver que ser, será". Mas tudo é estressante e confuso, até aquele dia. É, aquele mesmo. Aquele que você vai lembrar pra sempre. Lembrou? Todos têm um.
É o dia em que você percebe que aquela guria ruiva tem os olhos castanhos mais bonitos que você já viu, que suas roupas são interessantes e que seu sorriso te faz sorrir. Percebe que aquele detalhe em seu rosto é o que o difere de todos os outros rostos - que você já considera normais demais. Percebe que as piadas sem graça dela são, na verdade, engraçadas, e que as suas manias e neuras são um charme - diferente das de outras pessoas, que não passam de insignificantes manias e neuras. Percebe que o jeito que ela mexe no cabelo é lindo, e que quando ela te abraça você sente algo estranho, ou muitos "algos estranhos" misturados que te fazem fechar os olhos e sonhar acordado. Certo, essa é a hora que você percebe que se apaixonou.
E com sorte isso vai dar certo apesar dos eventuais problemas e vocês viverão felizes para sempre, como um conto de fadas. Ou não. Afinal, o mundo não é feito de sortudos. E se não der certo tudo fica estressante e confuso, e você é obrigado a ouvir chavões de 11 em cada 10 pessoas com as quais conversa. Até aquele dia. É, aquele mesmo. Aquele que você vai lembrar pra sempre. Lembrou? Todos têm um.
É o ciclo da vida.

Brilha onde estiver

E quanto aos planos? "Bem, eu não sei", ele disse.
Mas ele sabia.
E ela sabia.
Apenas é difícil falar em voz alta o que a intuição sabe tão claramente.
E o frio lá fora? E o vento soprando? Quem iria parar? Quem iria mudar? "É o ciclo da vida, querida", ele disse. Quando na verdade queria dizer que tem medo do que não pode controlar. "Sim, eu entendo", ela disse. Quando na verdade queria dizer que tem vergonha do que estava capaz de sacrificar.
Um abraço, um toque... Os últimos, talvez. Uma promessa e um pedido, clichê. Palavras esperadas para um momento inesperado como aquele.
E quanto ao passado? Ah, o passado! Agonia para uns, felicidade para outros... última chance para eles. "Pega o violão e compõe pra mim quando sentires falta". E ela o fez. Compôs um acervo sobre vida, sobre mundo, sobre amor.
E quanto ao futuro? "Tudo vai ficar bem", ele disse. Quando na verdade queria dizer que estava com tanto medo quanto ela.
No caderno antigo havia uma lista de perguntas. Perguntas esperadas para um momento inesperado como aquele. Ele lê e responde a todas com seu discurso: "Adeus você, hoje vou pro lado de lá. Não levo tudo de mim para não teres razão para chorar. Cuida bem de ti para que ninguém te jogue no chão. Procure se dividir com alguém. Me procure em qualquer confusão. Levanta e te sustenta, e não pensa que eu fui por não te amar. Às vezes é bom se perder para tentar se encontrar, não tema tuas loucuras. Acalma essa tormenta e se aguenta que eu vou estar aqui. Quero ver você maior, meu bem, para que possa seguir adiante. Brilha onde estiver."

Então chega a hora de ouvir o galo cantar, como a rotina fez o corpo acostumar. Ela abre os olhos e se levanta da cama. Pega um jornal apenas para se sentir orgulhosa mais uma vez com as notícias de um país em paz, "finalmente, depois de tantos anos", ela pensa. Seguindo sua rotina, ela abre o baú de madeira ao lado da cama e se ajoelha na sua frente. Olhando as roupas camufladas, rasgadas e já mofadas pelo tempo, ajeitando as botas de couro e medalhas em seu devido lugar, ela suspira e diz "Brilha onde estiver". Palavras esperadas para um momento não tão inesperado como aquele.